Terminei Valiant Hearts, e amigos, que jogo, que jogo.
A história se passa durante a Primeira Guerra Mundial, um evento global ofuscado pela Segunda Guerra, mas que foi tão violenta, sangrenta e cruel quanto. A Ubisoft foi extremamente feliz ao conseguir transmitir o que é uma guerra: mortes, desgraças, uma vida miserável. Como o
@bburgarelli falou em
outro tópico sobre este jogo, os soldados não são muito diferentes do gado indo para o abate.
O jogo acompanha a história de cinco personagens, onde os acontecimentos intercalam as participações de alguns deles. Também temos, em alguns casos, a companhia de um cachorro, que é capaz de executar ações e alcançar pontos que nossos personagens não conseguem. Os puzzles não são difíceis, mesmo com as dicas desligadas - recomendo jogar neste modo, pois os itens utilizáveis não brilham, adicionando um certo desafio. Mesmo nos mais complicados, nada que alguns minutos pensando para ver que a solução era simples e estava embaixo do nariz.
Mas o ponto que Valiant Hearts brilha é no contexto histórico. Para isso, a Ubisoft contou com a parceria da equipe do National Geographic que fez o documentário Apocalypse World War I, e também do governo francês, através do projeto Mission Centenaire 14-18. Cada fato histórico é retratado com muitos detalhes, inclusive com fotos dos acervos citados, que foram coloridas. Ao lado delas, um texto explica o contexto em que as imagens foram tiradas. E, dependendo da região que o console está, os dados mudam. Quando estava nos Estados Unidos, por exemplo, o jogo explicava a relação de trabalho das mulheres em fábricas de armamentos, onde elas começaram a se organizar para, lá na frente, começarem a luta pelo sufrágio feminino. Já quando mudei para o Brasil, o jogo relaciona a Guerra com o seu impacto na produção e exportação de café brasileiro, e o que isso mudou na nossa economia.
Entre vários eventos reais e combates famosos, ali são explicados como surgiram as trincheiras, como era viver nelas, o que eram as "zonas de morte" (áreas entre as linhas inimigas), como foi o primeiro ataque biológico e o "equipamento" utilizado para se defender - leia-se um pano embebido em urina -, os primeiros tanques (que eram disfarçados como entregadores de água para as tropas), o papel das mulheres em fábricas ou enfermarias, a guerra subterrânea, os espiões, o motivo de soldados terem duas daquelas plaquinhas de identificação, a descrição das batalhas, o número de baixas. Até os itens colecionáveis mostram como era a vida durante a guerra, e realmente é um incentivo pegar todos eles para aprender um pouco mais sobre o dia a dia dos soldados. Fazia tempo que não via um jogo com tanto cuidado em resgatar e retratar um evento histórico.
Com Valiant Hearts em seu catálogo, a Ubisoft mostra que jogos podem ser bons com menos. Dou parabéns para quem teve a ideia de fazer um jogo relembrando os 100 anos do início da Primeira Guerra Mundial. É um evento um pouco esquecido, mas que foi tão importante para a história e também criou o cenário para o início da Segunda.
Além disso, esse Valiant Hearts consegue passar o que é o outro lado da guerra, menos heróico. Se em jogos como os antigos CoD, nós somos um soldado de um batalhão lutando pelo nosso país, matávamos todo mundo, aqui a história é outra. Apesar de tudo, guerra é uma merda, atrocidades são feitas contra nossos iguais, gente inocente é presa e assassinada. Soldados foram obrigados a participar, deixando mulher/filho/pais. E, a cada companheiro ou inimigo que morre, nós sentimos que ele também tinha a sua história. Cada perda é duramente sentida. A trilha sonora (impecável, diga-se de passagem) ajuda a fazer isso de forma magistral.
É um jogo que considero perfeito em sua jogabilidade e mecânicas, e ao mesmo tempo é triste por seu tema. Porém, gostei muito de ter jogado pra relembrar que nós também podemos aprender muito jogando videogame. Agora, vou atrás de catar todos os colecionáveis.