Contra os preços elevados de vários produtos eletrônicos, muita gente, mesmo pagando diversas taxas e impostos, opta por adquirir esses dispositivos em países onde os valores são bem mais acessíveis. No entanto, muito em breve não será necessário se mover para outra nação para comprar um tablet, smartphone ou computador mais barato. Acontece que, até o final desta semana, 80 países - ou seja, quase metade do planeta - devem assinar a atualização de um acordo comercial que elimina a tarifa de mais de 250 produtos de tecnologia de ponta.
Esta é a primeira grande negociação para corte de tarifas na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 20 anos e reduzirá em US$ 1 trilhão as tarifas cobradas sobre eletrônicos ao redor do mundo. China, Estados Unidos, Coreia do Sul e a União Europeia, que representam 97% do comércio mundial de itens de alta tecnologia, fazem parte do Tratado Internacional de Tecnologia da Informação (ITA, na sigla em inglês) que vai beneficiar produtos como GPS, videogames, cartuchos de impressoras, semicondutores, peças de computadores, mainframes, painéis solares, peças para satélites e até aparelhos de ressonância magnética. E não para por ai, não pense que foram apenas os "ricos" que assinaram. No tratado estão inclusos: Colômbia, Peru, Nicarágua, República Dominicana, Indonésia, Turquia, Costa Rica, Índia, El Salvador, Panamá, Filipinas, Coréia do Sul e mais 50 países. O objetivo é oferecer os produtos tecnológicos mais avançados do mundo a preços o mais baixo possíveis à quem quiser. Isso favorece principalmente o desenvolvimento de indústrias e empresas de alta tecnologia nesses países.
A má notícia? O Brasil optou por ficar de fora do acordo - por que é claro que sim
-, prejudicando não apenas os consumidores finais, mas também impedindo a modernização de laboratórios, hospitais, escolas, centros de pesquisa, empresas de alta tecnologia como produção de software e TI e essencialmente toda e qualquer empresa que lida com a nova economia de negócios ligados à web e serviços.
Segundo Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica, esse tipo de tratado poderia comprometer a indústria eletroeletrônica nacional. "Nunca quisemos participar do ITA. Se isso acontecesse, praticamente não teríamos mais indústria eletrônica no país", diz o executivo, destacando principalmente os preços dos itens chineses, os altos custos de produção no Brasil e o câmbio valorizado dos últimos anos. Ou seja, a desculpa é sempre a boa e velha lenga lenga de 40, 50, 100 anos atrás...."proteção da indústria nacional". Mas o que não faltam são estudos que mostram como medidas assim funcionam apenas para uma visão de curto prazo. Num primeiro momento, essas barreiras podem sim defender a indústria brasileira. Mas há um efeito colateral: quando você barra a entrada de produtos tecnológicos mais avançados, você está barrando também a entrada de inovação tecnológica no país e criação de setores completamente novos diversificando a economia. Ao impor barreiras à inovação, a indústria local tende a se esforçar menos para conseguir concorrer com produtos nacionais, já que não tem que competir com itens de melhor qualidade e preço vindos do exterior. Ela se torna, localmente mais competitiva, mas fracassa no mercado global. Você conta nos dedos as grandes empresas brasileiras de tecnologia que conseguiram se internacionalizar. E um país possuir várias dezenas ou centenas de empresas multinacionais é um dos pré-requisitos para ele se tornar verdadeiramente rico.
O mais engraçado é que quando abriu o mercado de automóveis a desculpa era a mesma - iria acabar com a indústria de automóveis brasileira - e está ai, Brasil 3º maior produtor de carros do mundo. Lembra da "Lei de Informática"? Não tivessem acabado com aquela aberração não haveriam tablets, smartphones ou notebooks no país. E quando privatizaram as telefônicas voltou a mesma historinha - vão acabar com as telecomunicações no Brasil - e hoje temos 6 gigantescas empresas de celular/telefone/internet 50 vezes maiores do que a Telebrás já foi um dia e por uma fração do custo em seus produtos e serviços. Muita gente aqui com certeza não se lembra, mas linha telefônica era comercializada como se fosse carro ou apartamento, constava até mesmo na herança...Brasil-sil-sil-sil-sil!
Por outro lado, José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), afirma que a ausência do Brasil em um acordo que envolve 80 países, no setor com alto potencial de crescimento nas transações e o com maior valor agregado, reforça o isolamento do país no comércio internacional. "Ou nos integramos ao mundo ou o Brasil ficará cada vez mais à parte. O país não pode pensar apenas na proteção de uma pequena parte da sua indústria, que já tem na taxa de câmbio atual uma barreira à invasão de importados, e deve considerar que o isolamento comercial também afeta a competitividade de todos os outros setores da economia, e impede a criação de todo um segmento de tecnologia de ponta, como aconteceu na Coréia do Sul, Malásia, China e Tailândia", declara Castro.
A expectativa é que o tratado internacional de tecnologia entre em vigor a partir de julho de 2016. O comércio global de produtos desse setor movimenta cerca de US$ 4 trilhões por ano. Algumas das empresas beneficiadas pela medida são Samsung, Intel e Sandisk.
Enfim, uma notícia muito triste mas completamente de acordo com o histórico do Brasil enquanto nação....República de Bananas 4 life...deitado eternamente em berço esplêndido....
Fonte: Várias partes de notícias vinculadas essa semana no Glogo, Infomoney e Folha de SP.